domingo, 13 de novembro de 2016

Se, Quase e Pentimentos

Se, Quase e Pentimentos
por Frank Viana Carvalho

Esses dias do lançamento do livro do Tostão fizeram-me lembrar dos ‘pentimentos’, palavra de origem latina que significa o rumo diferente que as escolhas podem ou poderiam nos levar.

Em algumas coisas da vida, dá para fazer escolhas múltiplas, e viver ao mesmo tempo caminhos que às vezes se harmonizam, às vezes se conflitam. Na modernidade a grande maioria quer uma carreira de sucesso e ao mesmo tempo uma vida pessoal de tranquilidade, afeto e realizações. Na prática, pouca gente consegue isso.

No filme, ‘O Diabo veste Prada’, fica evidenciada uma máxima dos antigos: o sucesso cobra um preço que a maioria de nós não está disposta a pagar...

Se cada escolha representa uma renúncia, nada se realiza sem perdas: às vezes, por não querer perder nada, acabamos perdendo tudo...

Mas a vida tem muitos aspectos de decisões que vão além do dilema sucesso profissional versus sucesso pessoal. Eles envolvem tanto o “se” dos pentimentos, como os “quase” do novo livro do Tostão.

Ah, se eu tivesse sido... se eu tivesse feito...

Como é que seria? Às vezes é fácil fazer essa análise, às vezes é difícil.

Às vezes perdemos com as escolhas, e às vezes ganhamos. Na verdade, como cada escolha envolve uma renúncia, sempre perdemos e sempre ganhamos. A questão que sempre fica é: o que vale a pena?

Mas até mesmo 'o que vale a pena' é difícil de responder, pois o que vale a pena hoje pode mudar e não valer a pena amanhã...

“Todo encontro é um reencontro, com o que vivemos, imaginamos, sonhamos, deixamos de viver ou com o que perdemos”. (Eduardo G. Andrade - Tostão)

Muitas coisas que desejamos não conseguimos. Outras, que temos, às vezes perdemos. E isso muitas vezes é bom, pois são perdas necessárias que levarão a outros ganhos.

Mas de fato, o que queremos? Viver nossos desejos e sonhos? Resolver problemas?

Viver os sonhos e desejos nos dá uma sensação de plenitude, resolver os problemas nos dá um sentimento de satisfação. Só que resolver um problema ao fazer escolhas é mudar a natureza do problema, e isso trará outros problemas. Mas assim é a vida, resolver problemas e tentar realizar nossas vontades (sonhos e desejos).

Embora haja mais semelhanças, por muito pouco, há de fato diferenças entre os ‘se’, e os ‘quase’. Os ‘se’ parecem ser mais suposições, e os ‘quase’ parecem ser reviravoltas do destino. É por isso que alguns contornam ou driblam os ‘quase’ e vão lá e 'fazem' ou 'vivem'.

A pergunta se repete: o que de fato queremos? Apenas estar seguros de que somos capazes de conseguir? Como saber se queremos se o temor nos impede de avançar? Ou se acontecer de querer, mas sermos levados a renunciar o que queremos?

Não existe vida linear, com acontecimentos corretamente estabelecidos e ordenados – sempre há interrupções e mudanças. Ah, as mudanças... elas são inevitáveis.

Uma vez perguntaram a Rubem Alves porque ele era escritor. Ele disse, entre sorrisos, que era porque tudo que ele havia tentado antes (pastor, professor, psicanalista, conferencista), de alguma forma, não tinha dado certo. No final ele riu da própria resposta que havia dado...

Até nisso uma pergunta: o que é que dá certo no sentido da perfeição? Talvez pouca coisa.

Mas se considerarmos que somos seres imperfeitos buscando encontrar um sentido, um caminho, ou melhor, buscando encontrar a nós mesmos... sim, em cada escolha estaremos nos encontrando...

Por instantes fugazes, por detalhes simplórios, e por acasos, a vida muda, tudo muda, ganhamos e perdemos.

Algumas pessoas têm mais “quase” do que outras. Outras, têm mais 'se'...

É como diria João Guimarães Rosa: “Viver é um descuido prosseguido”.

Para reflexão:
Tempos Vividos, Sonhados e Perdidos. Eduardo Andrade (Tostão) fala muito sobre os 'quase'.
Filme "Um Dia" de Lone Scherfig retrata os 'pentimentos'.

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